segunda-feira, 15 de maio de 2017

Conhecendo um pouco da Educação Campo da UFVJM



Prática de Ensino: Polo Montes Claros
Síntese das disciplinas dos módulos II, IV, VI do 2º semestre de 2016
            O presente trabalho é resultado do primeiro encontro de Prática de Ensino do Polo de Montes Claros, que tem como objetivo apresentar uma síntese das disciplinas cursadas nos módulos II, IV e VI do 2º semestre de 2016, do curso Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri.
Em discussão sobre as sínteses elaboradas por cada discente, percebemos que algumas disciplinas se correlacionam, principalmente quando se trata da disciplina Culturas Afro-brasileira e Indígena, ministrada no módulo II, cuja abordagem sobre as questões de “Identidade” se relacionam também com outras disciplinas dos módulos II, IV e VI. Ao se tratar do conceito de Identidade, conseguimos entender que tanto o Brasil quanto os alunos da Licenciatura em Educação do Campo são formados por diversas culturas. Tal variedade de saberes e costumes, que são características da população brasileira em geral, especificamente das comunidades tradicionais brasileiras, como os quilombolas, indígenas, ribeirinhos, agricultores familiares, entre outros, contribui de forma significativa para a formação de sujeitos e futuros professores (as), tornando-nos capazes de transmitir aos nossos alun@s mecanismos que os farão críticos e formadores de opiniões.
Com base no que foi apresentado acima, o sujeito do campo compõe a sua história no contexto na medida em que constrói a sua identidade de acordo com sua vivência, seja ele um sujeito demarcador de seu território, conhecedor de seus direitos e atores do campo. É necessário ressaltar que não há uma identidade fixa, ela é híbrida e muda constantemente com o tempo e contato com outros grupos, culturas e saberes diferentes, ao se constitui como um marco que nos caracteriza no mundo, e que nos diferencia uns dos outros, tornando mais rica uma cultura.
            Sobre identidade e sujeitos do campo, Caldart afirma que:
A educação do campo se identifica pelos seus sujeitos: é preciso compreender que por trás da indicação geográfica e da frieza de dados estatísticos está uma parte do povo brasileiro que vive neste lugar e desde as relações sociais específicas que compõem a vida do campo, em suas diferentes identidades e em suas identidades comum; estão pessoas de diferentes idades, estão famílias, comunidades organizações, movimentos sociais... A perspectiva da educação do campo é exatamente a de educar este povo, estas pessoas que trabalham no campo, para que se articulem, se organizem e assumam a condição de sujeitos da direção de seu destino[...] Trata-se de uma educação dos e não para os sujeitos do campo. Feita sim através de políticas públicas, mas construídas com os próprios sujeitos dos direitos que as exigem. (CALDART, 2002, p. 19)

Um outro ponto muito importante, que surgiu durante as discussões para a elaboração da atividade de Prática de Ensino, foi a questão da língua e da linguagem, presente em todos os módulos. A língua não é apenas um organismo dinâmico, mas faz parte da construção da identidade de cada indivíduo, sempre em constante desenvolvimento. Por isso, a língua não é fixa e imutável, podendo ser formal ou informal, com usos que podem (ou devem) ser determinados pelos contextos.  Exemplo disso é a forma como um falante fala com um amigo, que é diferente da forma que se fala com um professor, ou presidente de alguma instituição etc.
Os estudiosos divergem sobre o conceito de língua e linguagem. Chomsky (1965) afirma que todas as pessoas do mundo podem falar qualquer língua, porque todos têm competência, contudo seu desempenho vai depender do meio em que o indivíduo vive. Já Saussure (2008) acredita que a língua é um fato social, assim como a fala depende da outra, seria um sistema de signo que é a soma de tudo que temos na mente. Para Bakhtin (1995), a língua está relacionada ao tempo, lugar e espaço, variando de acordo com o local e o momento que o indivíduo está inserido. Com isso, acreditamos que enquanto houver disputa de opiniões sempre teremos que pesquisar, para sabermos cada vez mais sobre língua e linguagem.
Ao discutimos sobre a Educação do Campo, podemos dizer que é uma educação  processual,  centrada na formação e autonomia humana, e não uma educação que ensina o homem do campo a “falar certo”, porque não existe um “falar certo”. É preciso respeitar o saber do homem do campo. Além disso, a relação que o sujeito do campo tem com a linguagem é própria, formada culturalmente e passada de geração em geração.
            Afirma Lunas e Rocha, sobre a formação do homem do campo, que:
A educação do campo é entendida como processo de formação, e emancipação humana, envolvendo: ações formais: escolarização desenvolvida pelo sistema escolar público nas esferas federal, estadual, municipal, e comunitária; ações não informais: formação política, sindical, técnica, produtiva, religiosa, cultural desenvolvida por instituições governamentais de extensão rural, assistência técnica, pesquisa e por órgãos não governamentais da sociedade civil; ações informais: as que se desenvolvem na família, na comunidade, nas manifestações culturais, nos meios de comunicação, no trabalho, muitas vezes espontâneas, vindas não só de organizações, mas, sobretudo, de pessoas, que na vida cotidiana promovem ações educativas. (LUNAS; ROCHA, 2010, p. 74)

Portando, temos que entender que a Educação do Campo não é apenas para formação do sujeito do campo, objetivando ensiná-lo a ler e a escrever simplesmente, e, sim, formá-lo como cidadãos críticos, protagonistas dos seus conhecimentos e de sua própria história, sabendo fazer valer seus direitos e cumprindo seus deveres.

Referências Bibliográficas
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo, Hucitec, 1995.
CHOMSKY, N. Aspectos of the theoy of syntax. Cabridge: The MIT Press, 1965.
CALDART, Roseli S. Por uma educação do campo: traços de uma identidade em construção. In: Educação do campo: identidade e políticas públicas – Caderno 4. Brasília: Articulação Nacional “Por Uma Educação Do Campo”, 2002.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Ed. Cultrix, 2008.
LUNAS, Alessandra da Costa; ROCHA, Eliene Novaes. Práticas Pedagógicas e Formação de Educadores (as) do Campo: caderno pedagógico da educação do campo. 2 Ed. Brasília: Editora Dupligráfica, 2010.

Um comentário: